Bahia Notícias – O senhor tem a possibilidade de se lançar candidato a senador ano que vem, agora pelo PT, partido ao qual é filiado atualmente. Como andam as negociações?
Waldir Pires – Não é propriamente uma negociação. Imagino que seja uma corrente. Isso resultou de um momento em que a maioria da bancada federal quis uma conversa comigo no almoço no dia do meu aniversário. Lá eles me disseram que me desejavam como candidato ao Senado.
BN – Mas o senhor se sente confortável para concorrer hoje ao Senado?
WP – Será uma eleição, para mim, um pouco diferente. Eu a vida inteira sempre achei que a política tem que ter um lado. De discussão democrática e o de certa intransigência. O primeiro está na cabeça e na alma da gente. Tanto que toda vez que ela se pôs, eu lutei para ganhar a eleição, mas convencido de que estava dando uma contribuição ao país. E hoje não é mais um processo mais do meu país, é do mundo. Crise política é uma crise universal. Nós podemos construir uma sociedade justa. Há uma crise dos partidos políticos. E nesta conversa (sobre o Senado) eu disse que dependia deles. Estou em uma situação hoje em que digo que o meu estado, a minha população, meu partido, evidentemente não deve ser o que foi no passado. Hoje eu digo à Bahia, ao partido e à população que, se porventura eu for convocado, eu vou para a luta. Se o meu partido decide, não tenho nenhuma dúvida. Eu me sinto com espírito absolutamente voltado para este desafio do Estado democrático.
BN – E este sentimento é unânime em todo o partido?
WP – Eu não sei. Foi o que me transmitiram os meus companheiros. Hoje até diria que me sinto surpreendido com a empatia com os companheiros, manifestações inequívocas, mas isso depende do partido. Só posso ser candidato se o meu partido me quiser.
BN – O senhor perdeu uma eleição em 1982 para o Senado para o Luís Viana Filho...
WP – Eu não perdi (risos). Seguramente. Em 82 foi uma luta. Quando eu voltei para a Bahia, depois de ser anistiado, trabalhava no setor privado no Rio de Janeiro, com a minha mulher e os meus filhos. E não tinha a menor condição, só poderia mesmo trabalhar. Voltei para nós construirmos. Antes do golpe de Estado, eu tinha sido candidato a governador nas Formas Democráticas e Populares. Naquela ocasião, com meus trinta e poucos anos, eu era candidato de todas as forças democráticas. Ganhei a eleição em todas as urnas de Salvador. E perdi pela mobilização do controle clientelista. Quase ganho.
BN – O senhor acredita que em 1994, na decisão com Waldeck Ornelas, ocorreu movimentação parecida?
WP – Lá foi uma fraude identificada, mas só não foi apurada. Era um absoluto descontrole o que as urnas apresentavam. Em determinados instantes foram centenas de urnas em que desapareciam votos brancos e nulos. Até que chegamos à reta final, em que não foi feita a recontagem de votos, como manda a Lei. Foi uma fraude, não-cumprimento de deveres. É um aspecto que joga com a soberania do voto. Quando a Constituição diz “todos são eleitos pelo voto do povo”, na verdade é a soberania popular que está em jogo. Quando ela significa uma não-verdade eleitoral, a Lei manda que faça recontagem e não se fez. Mas no TSE simplesmente se mandou arquivar, pelo fato de que ele decide matéria de Direito e não de fato, que só poderia ser decidida pelo Estado.
BN – E em 2002 o senhor considera que teve uma derrota para Antônio Carlos Magalhães?
WP – Eu quero considerar que, pessoalmente, estava totalmente esgotada aquela etapa toda de uma política que não tinha nada a ver com o Estado democrático. Ele é o instrumento único que pode construir a sociedade democrática. Porque ela precisa produzir as transformações e são uma exigência absolutamente irrenunciável. Significa a interrupção de todo o regime clientelista, do coronelismo, utilização do estado de beneficiamento de gente em concentrações econômicas e etc. Hoje no mundo não importa fazer isso só no nível das nações, porque o mundo ficou pequeno. Hoje vocês da comunicação noticiam tudo instantaneamente. Então construir esse processo democrático é um desafio que está posto: é preciso construí-lo. Não há caminho fora da democracia, mas não é possível democracia de fachada. Essa foi possível em tempo largo, simplesmente de declarações para não serem cumpridas. Daquelas que se põe na constituição e que é para não valer para a vida das pessoas.
"Ganhei a eleição em todas as urnas de Salvador (em 1982). E perdi pela mobilização do controle clientelista. Quase ganho."
BN – Mas o senhor acredita que o Estado brasileiro superou esta fase?
WP – Não! Precisa de muito trabalho. Nós avançamos nos últimos anos. Temos o presidente Lula, que é uma prova de que nós avançamos. O primeiro avanço foi o de suprir a enorme desigualdade social. Que produza inclusão social, que está vinculada à distribuição de renda, ao atendimento de necessidades básicas, de que haja realmente uma liberdade de oportunidades, que não há. Não há quando, por baixo, você estabelece desigualdades gigantescas na vida da população. A democracia precisa ter uma coisa verdadeira. Nós não temos o exemplo na história de um processo mundial. O mundo hoje precisa que a democracia seja universal. E por isso mesmo ela não pode ser uma mentira, em que todos são iguais perante a lei. A vida é o que importa. Fazer a população inteira participante da sociedade. Isto não é uma utopia, é uma realidade que você pode fazer. Como foi possível fazer em determinados países, que em boa parte do século XIX e século XX inteiro tiveram relativa democracia inteira, mas para eles. Havia grande exploração das colônias, coisa que o mundo moderno não permite até mesmo pelo desenvolvimento da inteligência humana.
BN – O senhor acompanhou desde Juscelino Kubitscheck até o Golpe de 64, o processo da Ditadura e a instalação da democracia. O que o senhor acha que, neste processo, dificultou para que o Brasil tivesse uma democracia de fato?
WP – Nós e todo mundo. Mesmo os mais ricos não têm. Depois, por exemplo, na minha experiência do tempo de exílio, eu vivi algum tempo na Europa. Eu ensinava na Dijon, capital da Borgonha, mas vivia com a minha família no subúrbio de Paris. Esse lugar hoje é quase impossível de ser habitado. Lá, ele era muito o subúrbio das imigrações, com africanos, argelinos. Era uma vida modesta, mas era tranquila. Hoje você não tem mais isso. Há bolsões de não-desenvolvidos. Os EUA têm aproximadamente, hoje, 70 milhões de pessoas abaixo do nível da pobreza. Este é realmente um desafio para a democracia. Ela tem que ser acreditada pelo povo, com o povo e para o povo. No passado, Lincoln, que vivia em um ambiente quase de apartheid mesmo, determinou que houvesse a cessão de uma determinada quantidade de acres para cada escravo produzir com a sua família. Dava a terra e dava um burro, um animal de carga, o instrumento de trabalho. Nós não fizemos nada disso. Não havia nenhum nível de comprometimento, de vontade democrática de transformações.
BN – Mas até hoje isso acontece. Vemos um grande número de empresários que tem quantidades enormes de terras e o governo precisa negociar para haver alguma cessão de terras para os trabalhadores.
WP – Acho que avançamos bastante. No meu governo eu fiz um sistema de reforma agrária que foi o melhor do Brasil. Eu tinha um secretário para a reforma agrária que era uma figura extraordinária, o Euclides Neto. Fizemos realmente uma coisa extraordinária na Bahia. Tivemos centenas e centenas de assentamentos, com estrutura, sustentação social, apoio para as condições da família. É possível. Ter esta visão que as pessoas devem ter. Digamos assim, a minha geração teve esse compromisso. Eu tive esse compromisso. Porque a minha geração foi de muitas diferenças. Eu, quando entrei no pré-vestibular, nós tínhamos uma expectativa de ver um mundo diferente. Em plena guerra. Quando eu entrei na faculdade foi o ano em que terminou a guerra. E o campo de sonhos era muito grande. Países que eram representantes das forças liberadoras, transformadoras, sobretudo EUA e Inglaterra, tinham convocado os povos do mundo para reunirem-se a eles naquela ocasião e produziram a Carta do Atlântico em 1945. Nesse ano, chegaram a garantir que iriam vencer a resistência para assegurar a cada pessoa a liberdade do medo da exclusão. E a liberdade das necessidades.
BN – No Brasil ainda se morre muito de fome.
WP – No Brasil e no mundo. Hoje com a política do presidente Lula você reduziu substancialmente. É como foi o governo de Getúlio Vargas. Foi a primeira experiência de inclusão social urbana que o Brasil teve. Fora daí, era plenamente uma sociedade oligárquica controlando a economia, pelo capitalismo financeiro. A república cafeeira.
BN – O senhor acha, inclusive, os acordos que o governo Lula faz com pessoas como José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor, que representam oligarquias, além deste atendimento ao sistema financeiro internacional, também de certa forma não dá uma continuidade a este processo histórico no Brasil?
WP – O Brasil derrubou quantos presidentes? Derrubou Getúlio Vargas porque ele fez a inclusão. Conspiração gigantesca. Claro que Getúlio tem seus erros, mas foi, no fundo, responsável pela estruturação do Estado moderno brasileiro. Ele fez a inclusão urbana e a legislação do trabalho, pois não havia nenhuma proteção do trabalho, além da inclusão humana. Foi derrubado pelos bens, pelos benefícios. No governo de João Goulart, que foi derrubado e cassado pela estrutura mais atrasada do país, usando um golpe. Mentindo à nação. Eu estava lá. Eu fui visto chegando pela janela. Eu e Darcy Ribeiro. Ele era o chefe da Casa Civil e eu era o consultor-geral da República, como se fosse hoje o ministro da Advocacia Geral da União. Então o presidente do Congresso Nacional produziu uma mentira, um ato criminoso, porque ele, em determinado instante, declara que o presidente da República tinha deixado a nação acéfala, insinuando que o presidente estava fora do país enquanto ele tinha saído de Brasília, na noite do dia 1º de abril para ir para Porto Alegre, onde o comandante do 3º Exército, Natálio Teles, tinha declarado que não concordava com a violência que era suprimir a liberdade democrática do país. O Congresso se reuniu e é o Congresso que dá o golpe. A maioria dele. Nesta ocasião, o último documento da República foi escrito por mim, à 1h30 da manhã. Chegam então no Congresso os deputados já articulados com os militares e com a política de intervenção internacional. Porque duas horas depois, o presidente Johnson, dos EUA, já reconhecia o governo, autorizado, absolutamente coordenados. Eles sabiam que não tinham número para votar o impeachment e diriam à nação a mentira de que o presidente havia deixado o país. Então eu fui incumbido de prestar a informação de que o presidente havia deixado Brasília e estava no Rio Grande do Sul, na capital. A Constituição não estabelece limite, a não ser que esteja no exterior, mas não é preciso nenhuma licença para sair da capital da República. Então, nesta hora, o senador Auro Moura Andrade diz, com estas palavras: “declaro vaga a presidência da República. Declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli". E desligou tudo. Luzes, telefones, tudo. Este foi o golpe. É uma vergonha para o Congresso. Então é essa patifaria do Congresso que a gente tem que acabar. Ações que não têm nenhuma responsabilidade com a democracia e o projeto social do nosso país.
BN – Então não seria o grande pecado do governo Lula, defender Sarney com os atos secretos e tudo o mais?
WP – O presidente Lula precisa governar. Se ele não fizer isso, derrubam ele. Ele é um craque em política. Completo. Nisso, ele é maior que Getúlio. Ele é o maior estadista do Brasil em uma etapa adiante de Getúlio, e consegue por uma capacidade pessoal extraordinária de transmitir a todos os cidadãos do país inteiro um sentimento de dignidade nacional, uma autoestima de um país encaixando na alma do povo brasileiro. Essa força é extraordinária, para determinar o crescimento da independência do desenvolvimento de uma nação. Então ele paga o preço. Por que não fizeram estas intervenções com Sarney durante todo este tempo? O presidente precisa governar, é a tarefa número um. Ele tem menos de uma dezena de senadores. Quantos e quem são os senadores? Na Câmara dos Deputados, na base inicial do presidente são por volta de 150. O PT tem 80. O resto, eu peço.
"O presidente Lula precisa governar. Se ele não fizer isso, derrubam ele. Ele é um craque em política. Completo"
BN – O seu último cargo público foi o de ministro da Defesa, em que conviveu com o caos aéreo e com aqueles grandes acidentes aéreos que mataram centenas de pessoas. O senhor saiu magoado por saber que não havia condições favoráveis o suficiente para fazer um bom trabalho?
WP – Em determinado dia, em 2006, o presidente me chama e me diz “Waldir, te chamei aqui para assumir o Ministério da Defesa”. Eu disse a ele que aceitava e, naquela época, eu estava na Controladoria Geral da União, porque nunca houve, antes disso, controladoria na estrutura administrativa. O que tinha lá era uma corregedoria que Fernando Henrique tinha criado e entregue a uma procuradora muito boa, mas corregedoria para tomar conta das coisas com um sistema, não. Eu, na Bahia, publicava todos os dias no Diário Oficial tudo o que entrou e tudo o que saiu, tostão por tostão. Então as pessoas sabiam o que estava acontecendo, as pessoas acompanhavam. Transparência era fundamental. Então eu disse a ele “presidente, Ministério da Defesa?”. Aceitei, mas pedi para que ele mantivesse a mesma equipe lá na Controladoria, com muitos baianos. E disse também que teríamos de ter forças armadas preparadas. Há uma crise internacional, as Nações Unidas estão frágeis para segurar a continuidade do processo democrático. Está se fazendo guerras sucessivas. Assim como s EUA atravessam o mundo e o deserto para fazer uma guerra por petróleo, por que é que não podem fazer isso aqui? A Venezuela tem razão para ficar preocupada. Só que quando se instaurou este processo (com crises e acidentes), eu disse “presidente, me demita. Eu não posso pedir demissão porque dá a impressão de que eu fiz alguma coisa equivocada” . E eu não fiz nada errado. E tudo o que eu fiz lá foi mantido. Não tenho mágoa nenhuma, até porque eu sei que não foi só essa, porque sei que houve outras tentativas de criar um clima que fizesse cair o presidente da República.
BN – Coincidiu com a sua saída do Ministério a morte de Antônio Carlos Magalhães. O senhor acredita, por causa de toda a história, que a sua presença no cenário nacional teve algum tipo de influência?
WP – Não. Nós tivemos uma vida de conflito, confrontações, o que é natural, mas eu jamais tive nada pessoal de qualquer tipo contra ele.
BN – E como o senhor avalia o governo Jaques Wagner?
WP – É um governo que tem responsabilidade e temos que dar continuidade a isto. O que podemos fazer? Retorno? Não é possível.
BN – O cenário do ano que vem seria favorável para uma reeleição?
WP - Eu creio. Imagino que Wagner ganhará a eleição.
BN – Esse excesso de candidatos na máquina não vai enfraquecer a gestão até o final de 2010?
WP – Eu não analiso isso como o governador Wagner, porque é da competência dele, mas ele sabe que eu o apoiarei. Até porque eu não queria nem cogitar que houvesse uma posição do meu partido que eu fosse candidato ao Senado sem o apoio dele. Se isso acontecer, vou conversar com ele sobre qual é a outra alternativa. É uma etapa da construção democrática, e é uma coisa bonita, mas é longa.
"Não tenho mágoa nenhuma (de sair do Ministério da Defesa), até porque eu sei que não foi só essa, porque sei que houve outras tentativas de criar um clima que fizesse cair o presidente da República."
BN – Nos anos 80 o senhor protagonizou uma grande vitória contra o Carlismo, ao se tornar governador. Naquela época, não houve nenhuma influência de ACM, que era ministro das Comunicações, para tentar barrar este processo e lhe impedir de concorrer ao cargo?
WP – Nós não nos cumprimentávamos. E eu na verdade recusei o apoio de Antônio Carlos Magalhães. Eu era ministro da Previdência, estava fortíssimo, porque tínhamos feito um movimento e terminamos o déficit da Previdência. Tancredo Neves me chamou para assumir o Ministério porque a situação dele era muito séria. E foi uma batalha contra a corrupção muito grande. No gabinete de trabalho fiz uma grande movimentação com uma série de entidades civis, com a sociedade e outras entidades. Ganhamos a batalha e então eu estava forte. E naquela época Tancredo me chamou e disse que, por isso, eu seria eleito com o apoio de todo mundo na Bahia. Disse que não com o apoio de todo mundo, mas ele disse que todo mundo queria me apoiar. Até mesmo um pedaço do PDS que saiu para o PFL e que Antônio Carlos aderiu, depois da derrota de André Ávila, e ele queria que fossem forças conjuntas. Eu disse “presidente, não dá”. E ele me falou que dias atrás o ministro Antônio Carlos disse que a coisa mais natural do mundo era a minha candidatura ao governo do Estado. Respondi que até que era o meu destino ser o governador da minha terra, mas assim não dava. A política tem simbolismos que é preciso respeitar. Então naquele instante eu percebi que ele era um intermediário em tentar fazer uma aliança, mas eu não poderia me unir com Antônio Carlos depois de ter passado 20 anos lutando contra a ditadura.
BN – Depois disso, o senhor deixou o governo da Bahia para concorrer à Presidência da República junto com Ulysses Guimarães. Houve alguma pressão para que isto acontecesse?
WP – Em 1988 eu era governador da Bahia e tinha dezenas de caravanas do chamado “PMDB Jovem” querendo que eu fosse candidato. Mas eu disse que não era a minha hora e eu não seria candidato. Mas houve uma pressão terrível em 1989 para que eu me candidatasse e ela foi subindo. E em um determinado instante eu entendi, mas disse que eu não ia me candidatar junto ao partido. Eles que me inscrevessem e eu ratificaria a inscrição. E eu chegaria na convenção do PMDB para isto. Esta foi a minha parte. Feita a convenção, eu perdi com uma margem mínima, menos de 3%. Havia a candidatura de Ulysses, a do Centrão, a de Íris Resende e a minha. Mas fiquei absolutamente satisfeito, só que não era a minha hora. Então voltei para cá. Naquela época, éramos 22 governadores do PMDB e só havia um único do PFL, que era João Alves, de Sergipe. Então a pressão era “Waldir, defenda o PMDB, salve a democracia e o partido”. Foram dias tremendos para mim. Vieram todos os 22 governadores para cá para que o partido se unisse e havia uma clareza de que iríamos para o segundo turno. Então me reuni com Ulysses e decidi ser o seu vice. Foi um período atroz, só eu e a minha mulher, Yolanda, aguentando tudo. Foi um sacrifício na minha vida, porque foi uma interrupção de um processo. O dano maior da ditadura foi esse. Decompôs a vida política, retirou de cada eleito e membro do Congresso o sentimento de que havia ali a expressão da vontade popular. Mas aquilo foi uma ação plenamente consciente. Eu não sei o que seria da minha cabeça hoje se eu não tivesse praticado isso.
BN - O senhor acha que Dilma Rousseff é realmente a sucessora de Lula?
WP – Eu imagino. Ela não teve uma vida de militante mas tem do lado dela o maior eleitor do Brasil (risos).
BN – Será que Marina Silva não pode ser uma zebra aí?
WP – Não. Marina é uma figura excepcional, extraordinária. Tem uma grande história mas é um nome etéreo.
"(...) eu não poderia me unir com Antônio Carlos (Magalhães) depois de ter passado 20 anos lutando contra a ditadura."
BN – Mas o senhor vota em Marina ou em Dilma?
WP – Isso é uma coisa pessoal, mas o partido político tem essa atribuição também. Eu sigo o meu partido. Ele deve alinhar as hipóteses de combate contra a realidade contemporânea atual de todos os tempos. O Brasil tem uma convivência com partidos políticos muito curta, menos do que outros países como a Argentina. Não houve tempo para consolidar ainda os partidos no Brasil. Hoje, a vida partidária no Brasil não tem significado algum. Existem 40 partidos aí e assim não dá. Essa coisa tem que ser séria.
BN – E o senhor está satisfeito com o seu partido?
WP – Esse ano faz 20 anos que eu voto em Lula. Eu fiz a eleição para presidente em 1989 e, logo depois de apuradas as urnas, fui para o lado de Lula no segundo turno. Qual era a marca do PT? Era um partido que tinha uma posição de transformação, de mudança e que não agredia a ditadura. Ele tem altos e baixos, com períodos melhores piores, mas ele é um partido. Eu vou ser favorável à manutenção de uma aliança se ela puder viabilizar o processo de inclusão social. Esse é o desafio.
FONTE: BAHIANOTICIAS.COM.BR
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